quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ritual

joguei coisas fora
fechei pra balanço
abri espaço
enterrei mágoas
mudei gavetas
descansei a alma
troquei conteúdos

queria mais
fiz mais

agora é esperar

colocar a roupa branca

e viver

e viver

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

ensaio sobre a saudade.

para C.

nem
quero
fazer
grandes
coisas
quando
te
rever,

me
contento
somente
em
partilhar
o
meu
silêncio
contigo

sábado, 18 de dezembro de 2010

é do desejo

que o seu corpo
um dia
desperte no meu corpo
quentura

na gélida distância nossa
que passemos
desses olhares inflamados
para um calor de almas que se juntam

sábado, 11 de dezembro de 2010

coisa mais linda é ver homem chorar

para André Gomes

(isso quase que é uma narrativa)




ambos se deixaram escorrer aquela noite

a solidão dividida tornou-se menor
mas o olho dos homens não deixa o pesar
de pesar diante da dor

chuva fina
calçada
bebida

e os dois partilhando o silêncio
como se fosse o maior tesouro da vida deles

terça-feira, 30 de novembro de 2010

não é vivendo que se morre

não é vivendo que se morre
morrer vem muito antes
morrer já nos foi dado

(Vida pela própia vida. Será isso?)

a dor não é da morte
se dói, é porque vive
viver culmina na dor

(Escolho a vida. Afirmo minha frágil certeza do agora.)

me dói o dentro e o fora
me dói a interrogação
me dói a exclamação

e eu resisto
por teimosia e por vocação

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

confesso



tenho medo
daquilo que querem
oh deus, como tenho medo
daquilo que querem que eu seja

do que sou não tenho medo
o que sou é tudo o que tenho

um amontoado de defeitos

e mais

regido pelo fogo, tenho sangue nos olhos
enluarado pela água sou todo matéria que escorre

transpira
chora
goteja

e agora?

me envaideço ou enlouqueço?

por esse duplo que sou

por esse defeito
por esse feito

pelo que foi feito
de mim, assim

dois e quem sabe mais

(t) eus

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

em pleno dia se morre

para Clarice e Coletivo Más Caras


Hoje eu tentei rezar. Não ao deus da maioria, mas àquela figura que existe em mim. Aquela figura que me preenche no vazio que é a existência.
A tentativa antecedia e precedia o choro. - Oh céus, por que será que reza e choro quase sempre se conversam? Me arrisco: Talvez, pela lágrima ter algo de divino em si própria. A alma que se faz líquido e transborda o corpo.
E nesse duplo transbordar da coragem humana diante do sagrado, pedi. E como não sabia muito bem como e o quê pedir, deixei que viesse:

"Querido deus, é estranho falar contigo após tanto tempo. Não quero me prolongar e nem me desculpar. Quero agradecer e quero pedir. Pedir aceitando o egoísmo que me faz humano.
Agradeço por ter aprendido e por ter descoberto o valor do choro. Agradeço também por suportar a dor, e por ter ao meu lado pessoas que me ajudem nas vezes que eu não suporto tanto.
E peço, sendo fiel ao meu não prolongar a reza, que me ajude a transformar algumas das lágrimas em tinta. (explosão) Sim deus, me fiz artista e necessito de tintas para escrever meus poemas e para viver.
Peço que cuide dos que confiam em mim e que me aceitem frágil e bobo como eu sou.
Amém."

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

programa




hoje eu fui ao cinema

sozinho

mas você estava comigo
desde a curiosidade
das primeiras imagens
miragens

passando pelos movimentos
sinuosidade nua
musicalidade sua

até desembocar
na pausa
na dúvida
no espelho
no escuro
no muro

nos créditos

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

as últimas palavras que te escrevo

não são as últimas

da pele pra dentro
sou todo palavras
flores e sentidos

redemoinhos loucos

das coisas que ainda sinto
e que tão logo não deixarei de sentir

sábado, 2 de outubro de 2010

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

bad romance

rasgamos seda
rasgamos a roupa
rasgamos o peito

te rasgo e te guardo em pedaços
nos bolsos da minha camisa de botões

e aguardo

talvez a próxima ardida palavra
talvez a mais efêmera das carícias
por isso mesmo tão violentas

por isso

foge por aqui que eu vou por ali
trocamos a covardia por outra coisa

talvez menos dor
talvez mais amor

ou um pouco dos dois
que por pouco não somos um

de tão iguais

tempestade, temporal
é o que me causa
e o que me cansa

mas te faço meu
por direito
desse jeito torto
que é nosso

e te faço

te faço pó, te faço nada
pouco caso de ti
faço de mim

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

babel: penso que a falta de palavras nos pegou na esquina do cotidiano com a covardia

falta que me faz falta
esse excesso pra mim é nada

nada daquilo que me disse
dissemos

sermos esses estrangeiros
um diante do outro
distante do outro
pela falta excessiva
de um nada em comum

incomum
incomunicabilidade

habilidade de troca
de ser
estar

encaixar no outro
sem encaixotar a si

enrosca tua língua aqui
na minha língua
que essa conversa
direta
reta

nos falta

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

mini drama (outro)

(falam-se num tom de repetição, como se já tivessem trocado essas mesmas palavras algumas vezes já)

- Eu tenho um coração.

- Tem certeza?

- Tenho, ele está aqui. Eu sei, porque dói. Daí eu sinto. Entendeu?

(pequeno silêncio)

- Se você tá falando...

sábado, 14 de agosto de 2010

mini drama

(Homem sentado no sofá, olhar perdido. Silêncio. Celular vibra. Homem atende)

- Alô?

(Som de ligação que cai. Olhar caído. Silêncio.)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

quase bonito

poema breve
curto, cotôco
se atreve
sai de cima
passa por baixo
quem escreve?
sem rima
sem nada
nada de mais
demais
nada de mau
mal criado
quem?
mal sabe quem
sei sim
certeza
sua alteza
foi eu
sei sim
é meu
meu poema roto
exagerado
mal-tratado
quase bonito
quase pequeno
quase poético

meu mesmo
quase isso tudo
faltando muito
pouco
bem pouco

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O quase começo de um conto meio sem fim. ou O menino que leu Clarice demais.

Aí teve o beijo (explosão) e todo aquele movimento de ar que se achava dentro saiu, e redemoinhos de prazer dançaram como se aquele fosse o último baile de suas vidas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

sobre pessoas, apesar das redes sociais, em favor do contato direto, reto e indiscreto

é, sou assim mesmo, gosto das pessoas pelo que elas tem de parecido mas também pelo que elas tem de diferente de mim

...

elas (as pessoas, ou parte delas) me despertam o interesse pelo abismo que elas são... pela possibilidade de me perder nelas... e com elas

segunda-feira, 26 de julho de 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

para além de mim

hoje, de súbito
tive meu (re)encontro com minha própria alma
e mesmo com esse ar seco que faz aqui na cidade
me deixei chover, para me limpar

segunda-feira, 19 de julho de 2010

noite

Meninos perdidos caminham iluminados pela Lua e pelos próprios olhos. Famintos de (qualquer) emoção que faça com que a existência deles ganhe algum sentido dentro da caixa burocrática e chata, que é como o mundo se mostra de vez em quando.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

deve ser a música que me deixa nesse estado de pura poesia e de pele que se apaixona a todo instante

sexta-feira, 2 de julho de 2010

hoje

meu corpo descompensado tenta se equilibrar nessa montanha-russa que virou minha vida afetiva

quinta-feira, 1 de julho de 2010

o tal do sangue quente

A vontade é de um vermelho intenso, bruto, sangue, fogo, essas coisas. No olho que se enche diante de um alma nua, de uma alma tua.
Passeio pelos arrepios que as palavras dão na pele. Na nossa pele. Dos corpos que não aguentaram a distância e pretensão da pluralidade e se deixaram levar pelo singular preenchimento do corpo só.
Por esse nó que a gente não vive sem. Por esse nós que a gente vive. Pela vida.
E pela explosão que é o instante.
Anseio pelos instantes debruçado nos abismos que outra vez chamei de almas.
Me repetindo ao falar as almas, talvez porque eu tenha aprendido que os encontros de verdade só acontecem por aí. Sendo a pele, o olho, a boca, apenas as vias de acesso ao abismo de cada um.

Ao menos comigo tem sido assim, nessas intensas e vivas relações.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

o menino e o caixão

como um boneco torto
o meu morto respira ainda
e o meu movimento é nulo
desajeitadamente parado

no peso daquilo que me esmaga
por baixo e não nas costas
arrastando-me pelo avesso
empoeirado e caquético

transpiro uma pausa longa
entre o tomar coragem
e o desapego franciscano

...

das pequenas mortes necessárias
o mais difícil continua sendo
se livrar do peso e do luto
e se deixar voar por aí...


Francis Bacon

segunda-feira, 21 de junho de 2010

cada vez mais, essa atmosfera de sonho que contaminou o meu olho teima em transformar o ordinário em poesia

domingo, 13 de junho de 2010

recado dado não se olha os dentes

(no impulso das palavras que teimam em sair)

A impressão que eu tenho, é de que a Roda da Fortuna irá sempre nos aproximar no final.

Não havendo outra explicação...

Te amo, dentro dessa nossa contraditória aproximação pelos espaços-tempos.

domingo, 6 de junho de 2010

na tensão das palavras que querem ser escritas, mas insistem em continuar do lado de dentro

quinta-feira, 27 de maio de 2010

ao suspiro vindouro

sem uma grande pausa
sem descanso, sem respiro
transpiro um novo abismo

devorado pelo enigma
do teu olho que me segue
tempestade vestida de brisa
corpo vestido de sol

lanço-me feito estrela cadente
na timidez das nossas palavras
entre vertigens, promessas
e minutos-séculos-futuros

terça-feira, 18 de maio de 2010

revirado

me perdi nas pétalas das margaridas
e fiquei sem a resposta
daquela nossa pausa dramática
de minutos-séculos de tempo

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Brincando com Vênus ou A mudança do menino

tempestades que movem meninos
meninos de pés descalços
soltos e envoltos no vento

vento que apaga os cigarros
faz viver o fogo de dentro
faz mover papéis pelo chão

meninos e suas brincadeiras
em cima dos colchões
e almofadas coloridas

brincam de beijo, batuque, cantiga
brincam de deus
brincam de homem

brincam de tudo o que é
e o que pode ser
um dia, quem sabe

até de sentir
às vezes se brinca

ou se sente o que brinca
o que talvez seja sério

não sei

dança menino na passarela vermelha
cor de sangue e de flor
como se o amanhã não houvesse

carrega tuas coisas até o outro lado
movimento, cabeça aberta
de coluna ereta, e todo o resto

terça-feira, 4 de maio de 2010

tentativa de poeta

quando me leio ou quando leio
é isso que transborda

profundidade exacerbada
de um tamanho maior que o meu
enrolado como meus cabelos
na madrugada dos meus escritos

escrevo com esses dedos
que de tão compridos
parecem mais de pianista
que propriamente de poeta

poeta que vive perto da lua
porque é lunar e tem sono de coruja

poeta que conta e se conta
numa ingênua malandragem
de menino crescido
barba rala, língua de trapo

poeta que escreve com a pele
e sobre a pele

letras borradas de paixão
inspiração barata
ossos de aço, do ofício
pedaço de mim

sexta-feira, 30 de abril de 2010

sobre a proposta do dia anterior.

Sequestrarei você sem que você saiba, no entanto, que ficará livre para escolher se quer me prender nos braços (abraços) ou pelas pernas (eternas).

Sem que saiba também que no cativeiro só haverá espaço para dois corpos, sendo que um deles é o meu, já que a ideia foi minha.

Sobre o vinho que abriremos.
Sobre o rock britânico que se ouvirá durante o ato.
Sobre o fato.
Sobre o suspiro.
Sobre a poesia, o olhar, o tato.
Sobre o olfato.
Sobre nada disso ficará sabendo.

Nem que o segundo corpo no espaço é o seu.

Nada disso.

Quero te pegar na curva, na travessa do desejo com a música.

Só nos restando o charme, no mistério que agora passou a existir.

sábado, 24 de abril de 2010

sem máscaras na noite dos mascarados

Ele não é misterioso.
Nem eu.
Nem as nossas palavras trocadas.
Nem a forma de encaixe do corpo.
Nem o vinho prometido.
Nem a despedida no metrô.

O que havia de misterioso alí
era somente a sua bolsa de feira,
carregada de pequenas bugigangas
pequenos universos de menino artista.

E talvez, muito talvez
a poesia que se escondia
no mais simplório dos diálogos.
De todos os tempos.
Na história de todos os amantes,
que já passaram por esse chão.

De resto era tudo pobre, parco,
sem nada de espetacular.
Sem nenhum valor de novela das 8.

Nada que fosse misterioso.

Ainda assim de movimento avassalador,
pequenas explosões
e coração batendo forte,
tão forte.

terça-feira, 20 de abril de 2010

e lá vamos nós

Eu bem que avisei que um ano regido por Vênus seria perigoso. Fui acertado em cheio por um objeto não identificado e estou tontinho da Silva. Perdi a direção do banheiro, as chaves de casa já não estão mais aqui comigo, minha carteira só deus sabe onde...

Agora é esperar e ver se a tontura passa, se o coração aguenta e se a cabeça não entra em parafuso de vez.


sexta-feira, 16 de abril de 2010

o gosto pelo caos de Dioniso

me embriagar até que eu esqueça
até que alguém me lembre
até que um certo alguém me lembre
até que o certo alguém me lembre

vale um vinho, vale um copo
vale chorar e rir ao mesmo tempo

vale morrer
pequena morte necessária

vale até desejar
desejos além da própria alma

essa minha alma que explode por não caber no corpo
que sofre pela falta das asas
e goza pelos excessos

(gritos celebrativos)

- Evoé!

ao sangue do poeta seco, agora

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Quem fala?

o telefonema que antecede a pele
a tentativa de contato
no mau contato do telefonema

e tudo o que eu tinha
chorado
rasgado
sofrido
perdido

se desfez
e me fez
acreditar em nós
nos laços
nos abraços

outrora partidos

...

o ser humano é mesmo uma graça
uma simples vibração e tudo muda

segunda-feira, 12 de abril de 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Só me fale se isso foi uma despedida.

havia apenas a pele
e a filosofia
sem o peso da filosofia

nós dois
e algumas estrelas caídas

doce decadência

o amor sem o peso do amor
apenas pele

- Quero-te dentro.
- Quero-te em mim.

quis porque quis

exagerei
exageramos

explodimos e nos reencontramos
por diversas vezes
na mesma noite
na mesma cama

nos conhecemos há tempos

acredito nisso
e em quase tudo no mundo

até no silêncio em que se ouvia as explosões

fomos heróis
e nossos cavalos ainda falavam inglês

quarta-feira, 31 de março de 2010

sobre a jovial liberdade.

aos rodopios soltos
ao som, alto e forte e tanto
ao olhar do menino bobo e nú

um brinde
mesmo que pela manhã
mesmo que na ressaca da Augusta

do beijo
do riso
do papo

aquele papo inteligente
ao mesmo tempo trágico
de articulação difícil
quase infantil

que pelo qual me apaixono
incansavelmente, alucinadamente
com ares de primeiro despertar

- Voa menino! Voa! Que eu quero te olhar.

mais um trago que a noite é curta
o infinito é todo nosso

amassos partidos no elevador
deixa filmar

esse é o meu "até que a morte nos separe"

te amo

sexta-feira, 19 de março de 2010

sobre o sentir falta.

das ruínas
e de tudo o que é velho
tão velho

deste corpo magro
raquítico
sangue de tinta fraca
tão fraca

tirei um bocado de luz
aquela luz
mínima claridade
quase vazia de esperança

nos meus passos tímidos
descompassados
e livres
tão livres

consumido e atravessado
em memórias e vontades

saudades

quarta-feira, 10 de março de 2010

o menino e a flor

registro dos fatos antecedentes:
longe de ser o pequeno príncipe
e morando num lugar bem maior que o B612

quanto ao futuro:
mas ainda com medo de despetalar
o amor, o amor, o amor

ou de se ferir nos espinhos
- Outra vez?


(voando com os pássaros selvagens)

sábado, 6 de março de 2010

impossibilidades

como é que se inventa um poema?

Prêmio Blog VIP



Prêmio concedido por Tânia Marques, do blog Palavras e Imagens

acessem: http://marquesiano.blogspot.com/


Obrigado, querida Tânia, pela indicação.

Normas para o Prêmio Blog VIP: eleger 10 (dez) blogs que eu goste. Aí vão alguns dos que que gosto muito.

http://achavemestra.blogspot.com/

http://razaogulosa.blogspot.com/

http://cultube.blogspot.com/

http://ciarefugio.blogspot.com/

http://cinemacultura.blogspot.com/

http://dizvirginandoamardrugada.blogspot.com/

http://malditapalavra.blogspot.com/

http://naofiquesao.blogspot.com/

http://paradoxosdoedu.blogspot.com/

http://umelmo.blogspot.com/

quarta-feira, 3 de março de 2010

cartas amassadas.

Me deito sobre todos os papéis onde eu escrevera o seu nome e um lençol de memórias envolve o meu corpo.
Sou como a tinta no papel, frágil frágil. Pela ação do tempo, do fogo ou de uma descuidada e atrapalhada xícara de café.
Um mínimo movimento sem cálculo e eu, letra de mão, perco minha forma e meu sentido.
Só sobra o sentimento, feito muito mais de carne que de intelecto. E uma estridente esperança de que as marcas se cicatrizem e que sobre mais espaço no caderno para mais desenhos de letras tão tão particularmente belas.

Aos olhos do poeta cego, claro.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

danço eu, dança você

havia prometido
me comportar

leão que sou
teimei
bati o pé
jurei
de pé junto
e separado

daí que Vênus
a impossível

cheia de graça
de manha
e pirraça

trapaceou

foi contra mim
meu orgulho
minha cabeça

fez da minha pele
pétala
fez da minha lágrima
orvalho

e esse meu peito
forte
inflado

se fez fraco
medroso
coitado

à mercê do vento
do mau tempo

(silêncio)

esfreguei os olhos
olhei pela janela
e Vênus estava lá
ao sol
me esperando
mãos espalmadas
prontas pra empurrar
o primeiro trouxa
ou o segundo
ou seja lá
que número seja o meu

sorri pra ela
sim
por que no fundo
ou em cima mesmo
não tenho vergonha
na cara
nem no bolso

fiz o sinal da cruz
mais por costume
que por religião

fechei os olhos

e agora estou cá
esperando
pronto
ou nem tanto
a próxima música
no próximo baile

no meio do salão

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

4.Somente as águias constroem ninhos à beira do abismo.

.vivência Memórias Póstumas de Hamlet.

"Fico no limiar entre a construção e a destruição. Sou meu maior obstáculo. Talvez esse meu corpo não suporte mesmo o peso do universo em expansão e explosão que carrego aqui dentro.
Meu pai está morto. Estou vivo.
Filho do vento que passou. Sou o ar parado querendo ser brisa.
Minha causa é morta. Meus olhos cheios são a mais verdadeira manifestação da vida em mim."


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

3.Quão belo é um enterro!

.vivência Memórias Póstumas de Hamlet.

"Essas nuvens, meu senhor, são apenas o prenúncio. Há algo aqui dentro que ultrapassa tudo isso. Não existe metáfora capaz de traduzir a verdade que se passa aqui dentro."

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

2.A genealogia dinamarquesa.

.vivência Memórias Póstumas de Hamlet.

"Quando parece que as tempestades tomaram gosto demasiado por mim."

(explosão)

era preciso
somente
ouvir dentro
por dentro
para saber
que esses ares
ESSES ARES
eram de tempestade
e não de brisa

...

agora estou aqui esparramado ao vento
ao deus-dará do tempo
nada arrependido

...

no silêncio do grito recente

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

o momento mágico ou a tentativa de contato.

(e ele disse)

agradeço por me seguires.
te sigo também.
entorpecemo-nos-emos de logos...
vem logo!
ainda há espaço
no braço,
fechemos o laço: apertados estaremos
na rede, ainda que com sede,
não desistiremos.
são múltiplos os desejos e poucos os prazeres.
me deixa ver-te de eros? veste-te, vai!
não te assustas com o logos: os sintagmas são desconexos.
sejais caçador de mim, eu, de ti.

(respondi)

envaidecido
um tanto entorpecido
e embevecido na fantasia de eros
seguimos então, um ao outro
e seja o que a poesia quiser!

(tempo de uma respiração profunda)

por que me cortejas assim?

revolvo-me para o guerreiro com a cabeça hesitante:
-faço cortesia em forma de poesia,
pra quem nunca vi, e nem sei quem seja.
o momento é hi-tech.
esse que as pessoas se desnudam por fios e,
pessoalmente,
geralmente, é nada que se imagina.
é o " momento mágico" do nosso tempo.
o guerreiro percebera que assim como seu tempo, tudo era efêmero.
subiu no cavalo e saiu à trote. queria eu que ele falasse :

(explosão)

- vai ver que nos conhecemos de um lugar que certamente não é o aqui e de um tempo que certamente não é o hoje vai ver é esse mesmo o caminho do desejo.
esse desejo ficara na minha subjetividade. lá no fundo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

sobre a importância da luz.

que o meu corpo
o meu caminho
e o meu sangue
estejam acesos

que os olhos brilhem
úmidos e atentos

que o sentimento aqueça
sempre e tanto

que as cores apareçam
mesmo entre nuvens

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

sábado, 16 de janeiro de 2010

anunciaram e garantiram!

antes do mundo acabar
ou antes de acabarmos com o mundo
penso que deveríamos acabar com tantas bobagens
antes que acabemos com tudo aquilo que há de mais forte

desse jeito tão bobo

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

epitáfio anterior

Se ainda desabo em água é porque meu corpo ainda chora necessitando de uma pequena morte todos os dias.

domingo, 10 de janeiro de 2010

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

meu coração não sossega, teimoso que é

só aprendeu um jeito de bater
(forte)
e insiste nisso

em conexão direta com outro teimoso
o olho
que só sabe mesmo é chover

isso sem falar do sangue que só sabe esquentar
da respiração que só sabe correr
da pele que só sabe amar

porque se ama, de fato, com a pele
o resto do corpo é que vai junto
teimoso que é

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

perder-se

antes que a cabeça engula o corpo
e eu me torne assim

armadura ambulante
carcaça fria
ossos de aço

ossos do ofício

não!

não quero artifício
lento, lento

quero apenas o risco
e o efeito que é

movimento

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

não adianta

somos uns patifes
e nos amamos

primeira conclusão depois da virada de um ano cheio de explosões para um outro ano que nem se sabe o que.

o que?

o amor quebra o corpo, mas a cor escorre em líquido e a matéria se torna uma só