sexta-feira, 27 de março de 2009

quase morto

vomito versos tristes por conhecer somente palavras tingidas de vermelho
...
todos seguiram e eu fiquei
a multidão vai ficando pequena
diminuindo
até sumir das minhas vistas

procuro aquilo que não existe
espero aqueles que já morreram
meus próprios pensamentos não me pertencem

ainda esperando
aqui
sem deixar que a lágrima escape
sem perceber a sujeira no chão

muito mais cansado que ontem

quinta-feira, 26 de março de 2009

que me faça sentir

ainda não foram esses olhos
que pelos quais me perderei

o resto do corpo ainda seguro
sem graça e com ar
sem medo

o adeus não teve pesar

a volta não teve dor

cada segundo que passa
sem esperança
sem esperança
sem esperança

encontrar o encontro ideal
incerto
estranho
rápido

(mas que me faça sentir o movimento avassalador da existência)

sexta-feira, 20 de março de 2009

única explicação

devo ser um bruxo
ou qualquer um desses seres aí
do outro lado da existência

não consigo me adaptar
me sinto estrangeiro
errante
perdido
em qualquer lugar
nesse lugar

mas perdi meus poderes
e não consigo voar

e esse vazio é porque eu sinto
sentindo mesmo
que já voei um dia
e agora desaprendi

quarta-feira, 18 de março de 2009

a roda

no fundo somos um bando de meninos bobos e mimados com inveja daqueles homens que foram pra guerra

segunda-feira, 16 de março de 2009

o artista no fundo não queria ser artista
nem mesmo poeta
nem mesmo nenhum desses aí
dessa raça que sofre
que precisa chorar
e não se contenta
conta pros outros
pra ele mesmo
pra quem passar
quem chegar
quem quiser

a vida não é dele
e os olhos são abertos demais
doeu
gritei
falei
e suportei sem perder a voz sem o teto desabar
...
mas esse medo
ainda
...
essas coisas
todas elas
que passam pela minha cabeça
e dançam e brigam e correm e falam
tomaram gosto por mim
de tal modo
de tal paixão
que me impedem de alardear as poucas
ínfimas
mínimas
conquistas desse pseudo-herói
aqui

sábado, 14 de março de 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

estava eu, lá, diante dele
aquele lá que me dá medo
que me assusta
que me apavora

achei que ficaria menor do que já estava

grande engano
cabeça cheia
coração bate

aparentemente tranquilo

do lado de dentro milhares de explosões

máscaras que protegem as cicatrizes

e eu ainda me achando forte

quarta-feira, 11 de março de 2009

cândido

gosto de ver você chegando
atrasado, correndo, de pasta na mão
gosto de toda essa humanidade que você mostra
frágil e forte e vivo e constante
gosto de ver o seu sorriso quando assistimos Bergman
e até os aplausos em algumas cenas
gosto da forma como banalizamos o assunto mais sério
mil,
um milhão,
um bilhão,
um trilhão de um monte de coisas

de resto não sei por que
pode ser coisa do cosmos
ou de sei lá quem

o fato é que eu sinto um negócio estranho
mesmo quando te odeio (coisa comum) te quero perto

minha fala tão bem construída fica muda e amedrontada

a coisa é simples e eu complico
todos os fatos

me faz calar como ninguém
invade meu mundo porque eu deixo
vergonha eu não tenho mais
preciso
precioso
cá dentro
te guardo
te aguardo
agora

sexta-feira, 6 de março de 2009

e você?

aqui,
perto do Olimpo
debruçado nos livros
diante dos espelhos
ao lado do lixo
me desfazendo
tentando
gritando
e com saudades imensas
e esmagadoras
daquele que possui asas

alcance

não tenho medo do mar
não posso ter medo do lugar onde estou
há deuses por todos os lados
eu quero ver
...
ver se consigo
me manter firme
e distante da paixão pelos deuses

a quem estou enganando?

me desfazer tem sido minha mais árdua tarefa
desde que topei fazer parte dessa empreitada
mais fácil seria ser animal, somente
ou uma semente

segunda-feira, 2 de março de 2009

quase verdade

ainda com medo do céu desabar sobre a minha cabeça
as tentivas chegam ao limite
meu, dos outros
...

o cansaço flerta com o próximo passo
a cabeça cheia
e o coração se esvaziando

- Sim! Eu tenho um coração.
- Tem certeza?
- Tenho. Mesmo vazio ele está aqui. Eu sei, porque dói. Daí eu sinto. Entendeu?
- Se você tá falando...
- ...

Ele sempre teve dificuldades em manter um diálogo sincero com os outros. Se envolve numas relações tortas de dominador e dominado e isso o impede de se portar como ser humano, sem nenhuma outra pretenção.
No fundo ele é bobo e um tanto patético. Se eu não o conhecesse diria que ele faz corpo mole perante a vida.
Mas no fundo acredito que não. Apesar do seu maior adversário ser ele mesmo, o pobre faz lá algumas tentativas e isso não se pode negar.