Pacientemente aguardei que as palavras viessem. Não comi, não bebi. Não coloquei música para tocar com medo de que isso atrapalhasse. Fiquei quieto, em silêncio, com as mãos no teclado.
Logo me dei conta de que era isso que eu diria naquele momento: o próprio momento. Da beleza própria que há na minha própria falta de argumentos, narrativas. Se não sei o que dizer, eu adivinho.
retratos de poesia
notas de silêncio, poesia embriagada, suspiros de canções
terça-feira, 28 de junho de 2016
quarta-feira, 8 de abril de 2015
sexta-feira, 27 de março de 2015
Vestiu sua camisa cor-de-rosa e saiu na chuva. Palavras e sentidos nos bolsos. Uma alegria quase triste. Ansiedade feito saudade. As mensagens de celular faziam vibrar seu peito de poeta e as gotas que pingavam do seu guarda-chuva preto deixavam seu efêmero rastro pelo metrô. Muitas pessoas em seus celulares... Haveriam mais peitos pobres que vibravam de paixão naquele instante? Talvez não sejam tempos tão secos assim. São quase 18h30 e ainda faltam duas estações. Chegará até a Consolação com um ligeiro atraso e adiantado de úmidas declarações de afeto.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
da sutileza da vida
Suspirou.
E antes de se deitar desejou ardentemente que o dia seguinte fosse um dia bom. Dizem que homens que suspiram percebem melhor os caminhos.
Acontece que nem sempre damos conta de que um dia foi realmente bom.
Se você passa por uma árvore e uma folha cai nos seus cabelos você percebe?
Se uma folha cai nos seus cabelos, este é um dia bom. A vida faz afagos mais sutis que o beijo de um beija-flor.
E antes de se deitar desejou ardentemente que o dia seguinte fosse um dia bom. Dizem que homens que suspiram percebem melhor os caminhos.
Acontece que nem sempre damos conta de que um dia foi realmente bom.
Se você passa por uma árvore e uma folha cai nos seus cabelos você percebe?
Se uma folha cai nos seus cabelos, este é um dia bom. A vida faz afagos mais sutis que o beijo de um beija-flor.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
dramaturgia solta 1.
Homem 2 entra, fica olhando de longe para Homem 1 até que toma coragem e senta-se com ele.
Homem 2 - Oi.
Homem 1 - Oi.
Homem 2 - Vai querer beber alguma coisa?
Homem 1 - Você.
Homem 2 - O que?
Homem 1 - Eu vou querer beber você.
(silêncio)
Homem 2 - Desculpa... O que foi que você disse?
Homem 1 - Nada.
Homem 2 - Ah...
(silêncio)
Homem 1 - E comer? Vai querer?
Homem 2 - Hã? (riem)
Homem 1 - Desculpe.
Homem 2 - Tudo bem. Acho melhor eu ir embora agora. Tchau. (sai)
Homem 1 - Tchau... (silêncio, sai)
Homem 2 - Oi.
Homem 1 - Oi.
Homem 2 - Vai querer beber alguma coisa?
Homem 1 - Você.
Homem 2 - O que?
Homem 1 - Eu vou querer beber você.
(silêncio)
Homem 2 - Desculpa... O que foi que você disse?
Homem 1 - Nada.
Homem 2 - Ah...
(silêncio)
Homem 1 - E comer? Vai querer?
Homem 2 - Hã? (riem)
Homem 1 - Desculpe.
Homem 2 - Tudo bem. Acho melhor eu ir embora agora. Tchau. (sai)
Homem 1 - Tchau... (silêncio, sai)
terça-feira, 19 de novembro de 2013
camisa estampada
Ele tem por mania camisas estampadas. Camisas de botão, divinamente elegantes. Diz que o charme é a única coisa que lhe resta nestes abafados tempos de solidão. Na verdade, acredito, toda esta beleza é por si um ato de vingança contra o desamor do mundo. Ao menos é o que diz a última estampa de uma aprumada camisa que vestiu hoje de tarde: flamingos e árvores. Existe resistência maior contra o desamor que flamingos e árvores?
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
série coração
coração travesseiro
descansei minha cabeça no teu colo
sonhei que éramos felizes, mas esqueci
coração garganta
não me desce até hoje
aquelas coisas que dissemos ontem
coração televisão
não se aguentando só, se casou
esqueceu a relação ligada e dormiu sozinha
coração dinamite
nos abraçamos e explodimos
feito homens-bomba
coração líquido
cruzaram os olhos e derreteram
feito água de garoa no guarda-chuva vermelho
coração poema
tocou no ombro do outro
como quem está prestes a virar a página
coração remédio
beijaram-se
mas a respiração estava presa e o gosto não foi sentido
coração mochila
segurei suas mãos, com peso, com força
como quem carrega preciosas inutilidades
coração açúcar
bombearam a relação
até que o ciúme lhe entupiu as artérias
coração vassoura
cansada de varrer todas as dores pra dentro de si
saiu de casa voando, louca, numa noite de lua cheia
coração post-it
não queria que esquecessem que estava namorando
até que o próprio namorado esqueceu-se dele
terça-feira, 25 de junho de 2013
Nós
para o casal Maia Areias
Ah, essas canções que estampam nossa casa
Que em nossos corpos pintam tatuagens
Que são as melodias desse nosso amor
Nós, de gêmeos, de choro, de vela, de amor
Da metade, do inteiro, cobertas de flor
Do acaso direto pra um caso completo
Mais que duas
Muitas caras
Todas as boas
Todas as máscaras
-
Ah, esses meus cabelos que me sobram na cabeça
E essa tua cabeça raspada, aberta de nascença
Esses pensamentos que não cabem no papel
Nós, de gêmeos, de lua, de água, de sal
De açúcar, temperos, de som no quintal
De um caso indiscreto pra um caso repleto
Mais que duas
Muitas caras
Todas as boas
Todas as máscaras
quarta-feira, 27 de junho de 2012
cor.
para M.
Se eu mudo por causa da lua, por causa da luz, por causa do sol
Se eu fico mudo por causa dos olhos
Se eu me confundo por causa da cor
Se o verde pra mim é azul olhando de noite
Se o azul fica logo verde nos dias bem claros
Se o que vejo, muda toda hora
O que sinto, perdura
E colore o dia
quero o teu amor
espero a tua cor
verde de esperar
azul de fome tua
crua ideia assim
teus olhos para mim
seja de que cor
que quero o teu amor
verde que te quero
ver
que te que quero
olhos
ver que quero os teus olhos
verdes ou azuis
azul como o luar
que peço para
ver
os meus olhos estranhos
os meus que são castanhos
pedem para ver
você com tuas cores
cores dos detalhes,
das minúcias, dos lugares
da cor das tuas retinas
da cor do nosso amor
verde que te quero
ver
que te que quero
olhos
ver que quero os teus olhos
verdes ou azuis
azul como o luar
que peço para
ver
Se eu mudo por causa da lua, por causa da luz, por causa do sol
Se eu fico mudo por causa dos olhos
Se eu me confundo por causa da cor
Se o verde pra mim é azul olhando de noite
Se o azul fica logo verde nos dias bem claros
Se o que vejo, muda toda hora
O que sinto, perdura
E colore o dia
quero o teu amor
espero a tua cor
verde de esperar
azul de fome tua
crua ideia assim
teus olhos para mim
seja de que cor
que quero o teu amor
verde que te quero
ver
que te que quero
olhos
ver que quero os teus olhos
verdes ou azuis
azul como o luar
que peço para
ver
os meus olhos estranhos
os meus que são castanhos
pedem para ver
você com tuas cores
cores dos detalhes,
das minúcias, dos lugares
da cor das tuas retinas
da cor do nosso amor
verde que te quero
ver
que te que quero
olhos
ver que quero os teus olhos
verdes ou azuis
azul como o luar
que peço para
ver
terça-feira, 26 de junho de 2012
trecho
, eis que ele resolveu vestir seu cachecol vermelho-sangue. Não quis que percebessem que estava abatido pelo amor que congelou num dos invernos mais terríveis que a Avenida Paulista já vira... Quis ter ao menos um lampejo de dignidade, desses gestos que quem não pode pagar um analista precisa ter para sobreviver nos dias de hoje -
segunda-feira, 25 de junho de 2012
palavras escarradas nos papéis do poeta doente:
transbordar os amores
assoar as lembranças
desintoxicar os afetos
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
amor é em 3D
para André Rosa, e todos os filmes que vimos e veremos juntos
somos um pouco feitos
dos filmes que vimos juntos
daqueles detalhes enquadrados
projetados
daquela poesia de movimento
detalhe, luz, cor, som
somos um pouco feitos
de roteiros antigos
adaptados pela manhã
e originais ao cair da noite
somos feitos
dos filmes que ainda veremos
daquele outro tempo
inventado em tela grande
dos clichês das nossas conversas
das falhas de continuidade
das explosões americanas
dos romances franceses
dos melodramas espanhóis
há em nós, talvez
algum efeito especial
alguma parte de nós anti-natural
terceira dimensão do nosso afeto
somos um pouco feitos
dos filmes que vimos juntos
daqueles detalhes enquadrados
projetados
daquela poesia de movimento
detalhe, luz, cor, som
somos um pouco feitos
de roteiros antigos
adaptados pela manhã
e originais ao cair da noite
somos feitos
dos filmes que ainda veremos
daquele outro tempo
inventado em tela grande
dos clichês das nossas conversas
das falhas de continuidade
das explosões americanas
dos romances franceses
dos melodramas espanhóis
há em nós, talvez
algum efeito especial
alguma parte de nós anti-natural
terceira dimensão do nosso afeto
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