quinta-feira, 27 de maio de 2010

ao suspiro vindouro

sem uma grande pausa
sem descanso, sem respiro
transpiro um novo abismo

devorado pelo enigma
do teu olho que me segue
tempestade vestida de brisa
corpo vestido de sol

lanço-me feito estrela cadente
na timidez das nossas palavras
entre vertigens, promessas
e minutos-séculos-futuros

terça-feira, 18 de maio de 2010

revirado

me perdi nas pétalas das margaridas
e fiquei sem a resposta
daquela nossa pausa dramática
de minutos-séculos de tempo

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Brincando com Vênus ou A mudança do menino

tempestades que movem meninos
meninos de pés descalços
soltos e envoltos no vento

vento que apaga os cigarros
faz viver o fogo de dentro
faz mover papéis pelo chão

meninos e suas brincadeiras
em cima dos colchões
e almofadas coloridas

brincam de beijo, batuque, cantiga
brincam de deus
brincam de homem

brincam de tudo o que é
e o que pode ser
um dia, quem sabe

até de sentir
às vezes se brinca

ou se sente o que brinca
o que talvez seja sério

não sei

dança menino na passarela vermelha
cor de sangue e de flor
como se o amanhã não houvesse

carrega tuas coisas até o outro lado
movimento, cabeça aberta
de coluna ereta, e todo o resto

terça-feira, 4 de maio de 2010

tentativa de poeta

quando me leio ou quando leio
é isso que transborda

profundidade exacerbada
de um tamanho maior que o meu
enrolado como meus cabelos
na madrugada dos meus escritos

escrevo com esses dedos
que de tão compridos
parecem mais de pianista
que propriamente de poeta

poeta que vive perto da lua
porque é lunar e tem sono de coruja

poeta que conta e se conta
numa ingênua malandragem
de menino crescido
barba rala, língua de trapo

poeta que escreve com a pele
e sobre a pele

letras borradas de paixão
inspiração barata
ossos de aço, do ofício
pedaço de mim