segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

1.Como pode um peixe-vivo viver fora da água fria?

.vivência Memórias Póstumas de Hamlet.

"Quando parece que choverá para sempre."

Se a minha carne pudesse virar líquido e se misturar à chuva eu finalmente seria inteiro. E a ventania solta me levaria para longe, e os meus olhos não mais veriam coisa alguma.
Só me restaria a sensação de que sou tudo e estou em tudo.
Ainda que chovesse pra sempre e o meu estado fosse líquido, ou ainda que o sol resolvesse sair e vaporizado eu virasse fumaça. Ainda assim estaria completo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

o que me resta ao final de mais um ano

pétalas caídas no corpo quente
janelas marejadas
melodias shakespeareanas

e a poesia que me salva

daí que a influência de tantos furacões
e de tanta chuva desse período chuvoso
fez parecer que
o tempo que vem chegando
regido por Vênus
(pudera!)
será de um vermelho intenso
jamais visto por esses mortais
do lado de cá do Equador

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

passagem

a tela
outrora enegrecida por algum fogo ruim
já se encontra branca e quase que totalmente limpa
esperando pelas cores e pelos sons
ou pelo fogo que a destrua de vez

amém!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Após percorrer a muralha da China juntos, cada qual saído de uma ponta. Último diálogo:

(silêncio)

- É para o nosso bem. É para o meu bem.

- Essa é a sua decisão?

- Sim. Eu não queria que fosse assim... Você sabe... Eu te amo.

(silêncio, ouve-se apenas a respiração forte dos narizes com renite e cada qual ouve o próprio pulsar do próprio coração)

- Você é muito importante para mim.

- Você também, muito.

- Tchau.

(silêncio, olhos cheios)

- Tchau.

(abraço, e se vão)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Há algo de podre no reino da Dinamarca!

me chamo hamlet
de pai morto
crânio na mão
olhos vermelhos

erínias sobrevoando

violoncelos e ranger de dentes que saem da boca dos comediantes histéricos orquestrados pela minha querida (?) mãe

COMO SE EU QUISESSE IR EM FRENTE

meu estimado tio

FODA-SE TODA A CORJA FAMILIAR

ofélia aquela minha querida boneca de pano

PAREM DE RIR E RESPEITEM A MINHA DOR DA AUSÊNCIA

por favor: não saiam antes das cortinas se fecharem e antes do grandioso final que nos espera a todos nós que sem querer colocaram areia de cemitério nos bolsos

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

a vitória nossa (minha) de cada dia

a pele fica do avesso
e tudo o que resta é

(não sei)

quem foi que inspirou essa dor?

esgotamento do corpo

a tinta derrete
e me sinto só
tão só

o que tenho feito de mim?

o que sei é destruir
e só

os girassóis estão murchos e me falta água e adubo

merda!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

palavra pele

sem querer acabei me lembrando que se fosse fácil manter os olhos secos ao ouvir tua voz

se eu quero que você diga algo?

(explosão)

mais uma vez: diz!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

a vida é essa bobagem

sinto falta

mas fico longe
pois tenho medo
de ficar perto
depois
ter que ficar longe
depois
sentir falta demais
e sem querer
parecer
para ser
fraco
sendo que
pareço forte
estando fraco
prefiro
não mostrar
mas quero que me veja

chorando
sem que eu precise mostrar

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

a possiblidade de manter o ar leve como está

eu aqui colorindo tudo
enquanto a luz

coitada

está fraca
fraca
se desfazendo em névoa e rancor

malditas sejam as nuvens que cobriram o Sol
e enlamearam os meus olhos
que já não veêm como antes

malditos sejam os meus olhos
que sendo humanos
não enxergam como deveriam

malditas sejam essas cores de agora
que de tão fracas
se desfazem ao primeiro sopro de homem

(tempo de uma respiração profunda)

tentarei dormir agora

afinal é primavera
e quem sabe se amanhã é dia de flores

(interrogação)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não se deve amassar as cartas!

Palavras nunca são descartáveis... E o desenho da letra é sempre uma extensão da pele.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

amém

sumiram as malditas palavras

e

o que me sobrou

foi

1- uma pequena tensão no pé direito
2- repiração acelerada
3- olhos caídos

mais uma alma cansada de dançar pelo salão e procurando um pouco de conforto ao se deitar nas almofadas coloridas

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

assim

tudo pode ir
podem me tirar
tudo
podem arrancar
tirar
de mim
que vá
tudo


(tempo)

mas me deixem meu amor

sim?

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sinto cá dentro uma vontade quase que absurda de ser.
Coisa essa, creio eu, não ter aprendido quando criança, não sei porquê.
Devo ter perdido todo o meu tempo pensando em ser ao invés de ser de uma vez.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

parado no ar

de relance
pelo espelho

me vi

feito Clarice

e me assustei
feito Clarice

com aquela existência
solitária e surda
de face borrada
silhueta torta
três pernas
e tudo mais

feito Clarice

(tempo)

ele que se arranje
ou
depois de morto, nasceu
ou
a tentativa do grito

(explosão)

o não reconhecimento daquela pele refletida era só mais um dos pontos congelantes da sua garganta tão acostumada ao silêncio durante as piores tempestades

corpo pede alma
alma pede música
música pede dança
dança pede corpo

(tempo)

e se sentiu pequeno e grande ao mesmo tempo
feito Clarice

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

(com as janelas marejadas)

naquela mesa qualquer de um fast food qualquer localizado numa avenida qualquer

a única coisa que não era "qualquer" era a assignificância do encontro e a percepção de todo o caminho até então percorrido com tanta dificuldade

pudera!

seres humanos, e bastante humanos aliás, se encarando de frente
rente às lembranças e às sensações da intimidade construída através de uma relação cheia de polaridades

profundidades
banalidades
sentimentalidades
contrariedades

humanidades

justo num tempo em que o que importa é a satisfação dos desejos e a segurança da privacidade

eu afeto
você afeta
nós afetamos

nos afetamos

viva!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

<3

a cor da sua pupila é aquela que eu quero ter como estampa do meu pijama quando eu for me deitar

ps.: romper

esses laços
me parece
mesmo
que foram feitos
e desfeitos
logo em seguida
de modo
que eu
eu mesmo
penso
que nunca deveria
tê-los feito
ao menos assim
tão apertados

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

e a cor?

hoje desbotado

pelas velhas palavras repetidas
pelas vontades que não passam
pelo estado cansado
parado
abarrotado

no silêncio descolorido

torcendo pela chuva
que alivie esse ar seco
sem graça

que saco!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

de uma vez

uma vontade louca quase desesperada de escrever te escrever cartas com a própria letra no caderno velho e destacar a folha e te entregar assim que já estiver assinado olhando os seus olhos esperando alguma reação por menor que seja mas no fundo que merda esperar e torcer pelo abraço ou pelo braço em volta do corpo como resposta ou ação de graças pelas palavras que tenham tocado de frente direto e fundo entrando pelas vistas seguindo por baixo descendo a garganta até chegar no estômago sendo que nessas horas já estará enjoado com as tais borboletas que farão tudo revirar vomitar escorrendo todas aquelas letras que se deixaram escapar desses meus sentimentos que guardo nem sei pra quê

quinta-feira, 30 de julho de 2009

do verbo colorir.

como se eu fosse uma folha de papel
e como se você fosse giz de cera

você me risca
me pinta
me borra

fico colorido
todo
cheio de cores
atravessando o corpo
da pele
da carne
do osso

os azúis, os vermelhos e os verdes
os amarelos, os marrons e os laranjas

entram pelos olhos
pelos poros
pela boca

e eu deixo de parecer um filme antigo para dar lugar às explosões do cinema moderno

segunda-feira, 13 de julho de 2009

e o inferno astral se vai, se esvai

e o Sol se mostra sobre a minha cabeça e me clareia os pensamentos e os sentidos abrindo meus olhos para o horizonte e para o lado de dentro que se achava tão frio e escuro mas que se aquece com a possibilidade de um renascer amanhã em um dia de colheita das flores de plástico e das lágrimas de vidro que dessa vez são de alegria e coloridas por si só e que escorrem pelo corpo vivo e movimentado e tudo isso no tempo de uma respiração profunda

ufa!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

que ele não acorde

eis que o lobo corre em direção à lua e se depara com um anjo

torce pra ser verdade

que dessa vez dê certo

que ele crie asas

que abrace as nuvens

coma estrelas

e que morra em paz!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

era vidro, era pouco

o amor que me tinhas
de verdade
de mentira
não era

ou era
mas só aqui
onde as cores são invertidas
e os detalhes embaralhados
(pudera!)

atmosfera enganadora
cegueira

julho faz frio
e todas as margaridas do bem-me-quer se foram

sexta-feira, 3 de julho de 2009

a redenção dos corpos

somente aquele que é amigo da lua sabe o que é a solidão
e sabe correr a noite mesmo com medo
por amor, por paixão
sei lá

de que adianta medir a intensidade do grito?
saber em que doeu mais, pra que?

hoje minha forma é essa
disforme

que a poesia me perdoe por tanta sujeira e desordem

amém

domingo, 28 de junho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

sobre formas de elevação.

envelheço
bebo
exagero
transbordo

encher a vida vazia
preencher o copo
do corpo
da alma

elevar a coragem
a voltagem

voar sem levar a culpa

ironizar
seduzir
agarrar

fugir da ressaca
moral
carnal
normal

voltar ao copo
pedir a conta
achar a chave
deitar no chão

sexta-feira, 19 de junho de 2009

a velha sedução bate a minha porta e eu (assustado como uma virgem de treze anos) me finjo de morto morrendo de medo e me escondo atrás de um caderno antigo cheio de letras de antigamente

terça-feira, 9 de junho de 2009

sobre o eu ser ator.

Citando novamente a paixão, a fúria, o vento e tudo mais.

Preenchido com algo que eu não sei descrever muito bem. Só sei dizer que não é nem bom nem mau, nem triste nem alegre.
E também não é prazer nem dor. É algo entre todas essas coisas que se misturam entre si e envolvem a respiração numa dança em conjunto com quem quer que esteja presente no recinto, na rua, no quarto, no palco... Onde for.

Uma necessidade de se contar, como dizia Drummond. Talvez porque a alma seja leve demais e agitada demais para se aquietar no próprio corpo e teima em passear pelo espaço livre que a pulsão do encontro permite.

Entorpecido. Atordoado. Vivo.

Me sinto vivo.

Vivendo uma infinidade de sensações entrelaçadas uma na outra, passeando por lugares infindos, meio nômade, navegador de águas incertas e profundas e salgadas.

Corpo sensível.

Urgência.

Com os deuses e paradoxalmente tentando alcançar o que há de mais humano.
Amolecendo a própria carne e movimentando o próprio espírito.
Tempestade.
Temporal.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

inferno particular.

o pouco de sanidade que me resta escorreu quando entrei por aquela porta no escuro dos meus pensamentos rodeado por todos aqueles olhos

falei falei falei
não reconheci a minha voz

uma carne muita mais cansada e dolorida pelas navalhadas que recebeu

acendi a fagulha de luz que existia

(na noite de vento frio e lua no alto)

iluminei

me vi outro
de lágrimas e náuseas maiores e amargas

coração exposto
alma exposta
poesia nua
e só

terça-feira, 2 de junho de 2009

quase 4:48h

nessas horas lentas
frias
tortas
quase mortas

escrevendo entre lágrimas
e entorpecido pelo desamor
ou pelo excesso
ou ele próprio
impróprio

eu sou sujo
rasgado
abarrotado

me desfaço em cacos pontiagudos e envenenados
que insistem e perfuram a ferida aberta
em gritos lancinantes que perfuram
furam
as paredes da pele do corpo da alma

eu sou bruto
cego
louco

mantenho a lâmina cravada
enterrada

e esgotado por essa dor
desejo ardentemente morrer
dormir
sumir
e só

segunda-feira, 1 de junho de 2009

divino

menino anjo que sorri
gurí
divino divo
menino

onde estão suas asas?

as flores todas ficam mudas ao te ver
alvorecer

o Sol na boca
a Lua nos pés
as Estrelas dentro
no peito

onde estão suas asas?

rebeldia leve
se atreve
dança
criança

de asas claras
olhar ligeiro
coisas raras

inteiro

sexta-feira, 29 de maio de 2009

sobre a minha sonhada totalidade.

hoje sou todo versos
todo vento
todo alma

decidi que quero ser inteiro
e meu
tão meu
que possa decidir quando vou morrer
quem vou amar
onde vou estar

não quero parar um só segundo
quero um movimento constante
errante
apaixonado

quero burburinhos
multidões
histeria

quero silêncio
gotas de chuva
balas de goma

dançar como louco nessa infinidade
me perder
me encontrar
não saber

não ter medo da morte
não chorar por amor
não sofrer de rancor

ir pra todos os lados
abraçar todas as coisas
olhar todos os olhos

hoje sou todo vontade
fúria
barulho
mais nada

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Neusa Sueli

e essa carne amaciada
roubada
ferida
fodida
tem sofrido tanto
apanhado tanto
tanto

como ela suporta?

bosta
fedida
merda
fedida

como ela suporta?

sendo gente
ou não
sendo bicho
ou não
sendo nada
ou não

como ela suporta?

um dia de lascar
sem grana
sem droga
sem gozo

como ela suporta?

duvido que aguente
um dia a carne sede
o sangue escorre
e o amor morre

quarta-feira, 27 de maio de 2009

menino homem

o menino vira homem
o menino tem medo do homem
o menino homem com medo
virado

revirado como sempre
irradiado de desejos

todos os lampejos
que guarda
que aguarda
escapam
explodem
saem
pelos poros
pelos olhos
pela boca

menino homem chora
chora menino
homem não chora

a voz está rouca
e o menino estranha
a garganta que arranha
coração que enlouquece
quase adoece

é dito: acontece
tudo isso
quando o amor aparece
não existe somente o calor
e o belo
e o bom
mas também a dor
do grito
o som
da tristeza
o dom
ainda falo e penso que te amo por pura formalidade

somente até o vazio aceitar o fato de que ele pode se manter assim por um tempo

quinta-feira, 21 de maio de 2009

as migalhas ainda me interessam
raspas e restos... como já disse o poeta

vergonha na cara?

nunca tive!

domingo, 17 de maio de 2009

crianças, somos todos

meus jogos amorosos (pudera!)
continuam tão patéticos como a anos atrás
na infância
inocência

minhas lágrimas são as mesmas
e a inquietude da mesma forma
os velhos sonhos que persistem
medos, companheiros fiéis
olhares ligeiros e safados
lábio torcido, mãos frias
isso
tudo

pra certas coisas não crescemos nem mudamos
aposto!

terça-feira, 12 de maio de 2009

hoje, ouvindo Edith Piaf me dei a chance de enxergar tudo isso apenas como um poema triste e belo... somente

sexta-feira, 8 de maio de 2009

matéria

tive uns sonhos tão estranhos que nem sei
me confundi com outras pessoas
um imenso grito coletivo
...

O que se passava era um assassinato. Ou uma tentativa de assassinato onde eu era a vítima.
Para o meu desespero a fuga da morte era algo lento e atravancado.
A execução de cada movimento se dava com uma imensa dificuldade e a voz (que voz?) não saía, justo numa hora dessas.
(Essa é uma constante nos meus sonhos.)
O curioso é que também me via no assassino. Ele tinha traços parecidos com os meus e a respiração rápida e atrapalhada como a minha.
Havia um sonho dentro do sonho. O que dá uma idéia circular, de infinito. Constante.
Rapidamente percebi a relação entre essas duas figuras.
Me apaixonei por elas. Aquelas figuras tão minhas, que se amavam, que tinham medo uma da outra, que escapavam.
E isso que aconteceu. A vítima escapou e o assassino permaneceu sentado com sua blusa preta olhando para o vazio.
Um milhão de coisas passando pela cabeça, e os olhos ardendo num quase choro engasgado.
Acordei.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

quarta-feira, 29 de abril de 2009

ele.



todas essas cores que escorrem pela minha língua
no fundo só querem escorrer soltas
e manchar as camas daqueles que amei
daqueles que vou amar
daqueles que nem sei

ao som de um bolero qualquer
mais exagerado que um folhetim
mais sutil que um circo
sendo sujo
borrado
bruto
hoje te falei um pouco sobre essas coisas que se passam aqui dentro e me arrependi pois continuamos tão (ou mais) distantes que ontem.

terça-feira, 28 de abril de 2009

fujo

jogo fora tudo que desperte minhas lembranças
tudo o que me faça suspirar
que me tira do eixo
me causa embaraço
me toma pra si

muito mais espinhos que pétalas

fujo

você não vê
não me vê
se aproxima
respira no meu pescoço
eu esqueço tudo

e esse silêncio que atordoa a minha alma
torna tudo maior e mais forte
e mais difícil de se arrancar

segunda-feira, 27 de abril de 2009

tentativa do trágico.

quase desidratado pela quantidade de lágrimas que saíram dos meus olhos na frente de todos erguido pelos braços de outros e pensando em mais alguns esses tais que eu espero um dia de verdade poder ver e tocar e me misturar de forma que não me reconheça mais nunca mais ao menos
não da mesma
forma como sempre fui ao menos não com
esses espelhos

que tenho aqui comigo
esses
vergonhosos
malditos
engraçados
apaixonantes
(pudera!)

caóticos
e sinceros
e meus

e de todos aqueles livres e corajosos que vierem, que gostarem e que quiserem

sexta-feira, 24 de abril de 2009

desencanto.

esse meu humor de merda é pra disfarçar que tenho medo do tamanho de todo esse sentimento que te tenho com toda a força que não consigo suportar toda vez que vejo ou ouço ou lembro meu peito quase explode fico pequeno pequeno minúsculo sem saber se quero não querendo querer não querendo sentir tudo isso ao mesmo tempo sempre e tanto e tanto

quarta-feira, 22 de abril de 2009

e o que havia de humano alí se perdeu.

o mundo não é tão azul quanto eu pensei que fosse
um grande bando de carniceiros e de medrosos
flores murchas
ratos
e eu

a voz consegue sair
permanece parada no ar
parece brincadeira
como se nada fosse
sem graça
risos histéricos ecoam
e a emoção é outra

o que era grande
(ou ao menos se acreditava como tal)
encolheu de tal forma
com tal rapidez
no único lugar

desesperança
desesperança
desesperança

a poesia do pesadelo se perdeu
corri acordado e me percebi no meio do lixo
sendo lixo
descartável

quarta-feira, 15 de abril de 2009

do lado de dentro

É tão forte que parece impossível que alguém saiba como é.
Fica só essa sensação do estar sozinho no mundo, mais nada.
Tudo o que se diz depois está imcompleto.
Nessas horas acredito que o grito não sai por precaução de algum ser divino ou do meu divinal inconsciente.
Pelo estrago que se faz aqui dentro se saísse haveria uma grande explosão. Corpos mutilados, paredes desmoronadas, sonhos despedaçados.
Esses são os cacos que perfuram a minha pele e me fazem ter medo do escuro ao mesmo tempo que me sinto arrebatado por ele. Não consigo sair na luz do dia. Não consigo ser mais forte que essa minha tentativa aparentemente inútil, aqui.

terça-feira, 14 de abril de 2009

a fuga!

me armei com meus óculos escuros e saí

ápice da coragem
consegui correr de tanto medo

no meio do caminho haviam alguns fantasmas
cumprimentei-os e segui

tentei pensar mas havia muita névoa
respirar também era difícil

quanto mais corria menos ficava longe

todos me viram
até as crianças pararam na rua pra me ver fugir
riam de mim
gargalhavam
apontavam despudorados
todos

meus olhos escondidos
vagavam mais nús que de costume

nem pensei em gritar
e a garganta quase explodiu

sábado, 11 de abril de 2009

se houvesse platéia

me sento

(há uma mínima pausa até a próxima ação)

começo a ouvir um bolero qualquer
quase me rasgo
exagero
transbordo

a lágrima borraria a maquiagem
se houvesse maquiagem

a platéia se emocionaria
se houvesse platéia

mas não
é tudo um grande circo artificial
não sinto isso nem nunca senti
nada
e só

ou não: há uma fagulha lá no fundo
outro dia distraído pude sentir
juro
foi rápido
mas tenho certeza
está lá, eu sei
eu sei

(outra pausa, dessa vez por não saber mais o que dizer)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

sonhava

dei um milhão de passos
e continuei aqui

água fria no rosto
ombros caídos
suspiro

desenho formas estranhas com giz de cera
na tentativa de voltar à inocência
o cheiro de chuva
o bolinho de chuva
o chinelo de dedo
a corrida na rua
o brinquedo quebrado

estiquei
parece que cresci

mas e o resto?

e o resto?

me insinuo para o relógio
ele não me dá bola
pareço patético
insisto
continuo patético

ps.: com os anos será que isso melhora ou piora?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

mesmo que pouco

ando numa fase curiosa
sendo puta
fazendo o que os outros querem
por migalhas
por grandes quantias (pudera!)

vez ou outra me revolto
mas geralmente me contento
em ser apenas corpo
mais nada
só isso

e claro,
eu minto

a graça da puta é a vergonha que ela sente em ser
como quero sentir graça
rir da própria desgraça
escondo
não conto
por charme
mais que por covardia

ainda por cima gozando e lucrando
mesmo que pouco
sempre

sexta-feira, 27 de março de 2009

quase morto

vomito versos tristes por conhecer somente palavras tingidas de vermelho
...
todos seguiram e eu fiquei
a multidão vai ficando pequena
diminuindo
até sumir das minhas vistas

procuro aquilo que não existe
espero aqueles que já morreram
meus próprios pensamentos não me pertencem

ainda esperando
aqui
sem deixar que a lágrima escape
sem perceber a sujeira no chão

muito mais cansado que ontem

quinta-feira, 26 de março de 2009

que me faça sentir

ainda não foram esses olhos
que pelos quais me perderei

o resto do corpo ainda seguro
sem graça e com ar
sem medo

o adeus não teve pesar

a volta não teve dor

cada segundo que passa
sem esperança
sem esperança
sem esperança

encontrar o encontro ideal
incerto
estranho
rápido

(mas que me faça sentir o movimento avassalador da existência)

sexta-feira, 20 de março de 2009

única explicação

devo ser um bruxo
ou qualquer um desses seres aí
do outro lado da existência

não consigo me adaptar
me sinto estrangeiro
errante
perdido
em qualquer lugar
nesse lugar

mas perdi meus poderes
e não consigo voar

e esse vazio é porque eu sinto
sentindo mesmo
que já voei um dia
e agora desaprendi

quarta-feira, 18 de março de 2009

a roda

no fundo somos um bando de meninos bobos e mimados com inveja daqueles homens que foram pra guerra

segunda-feira, 16 de março de 2009

o artista no fundo não queria ser artista
nem mesmo poeta
nem mesmo nenhum desses aí
dessa raça que sofre
que precisa chorar
e não se contenta
conta pros outros
pra ele mesmo
pra quem passar
quem chegar
quem quiser

a vida não é dele
e os olhos são abertos demais
doeu
gritei
falei
e suportei sem perder a voz sem o teto desabar
...
mas esse medo
ainda
...
essas coisas
todas elas
que passam pela minha cabeça
e dançam e brigam e correm e falam
tomaram gosto por mim
de tal modo
de tal paixão
que me impedem de alardear as poucas
ínfimas
mínimas
conquistas desse pseudo-herói
aqui

sábado, 14 de março de 2009

sexta-feira, 13 de março de 2009

estava eu, lá, diante dele
aquele lá que me dá medo
que me assusta
que me apavora

achei que ficaria menor do que já estava

grande engano
cabeça cheia
coração bate

aparentemente tranquilo

do lado de dentro milhares de explosões

máscaras que protegem as cicatrizes

e eu ainda me achando forte

quarta-feira, 11 de março de 2009

cândido

gosto de ver você chegando
atrasado, correndo, de pasta na mão
gosto de toda essa humanidade que você mostra
frágil e forte e vivo e constante
gosto de ver o seu sorriso quando assistimos Bergman
e até os aplausos em algumas cenas
gosto da forma como banalizamos o assunto mais sério
mil,
um milhão,
um bilhão,
um trilhão de um monte de coisas

de resto não sei por que
pode ser coisa do cosmos
ou de sei lá quem

o fato é que eu sinto um negócio estranho
mesmo quando te odeio (coisa comum) te quero perto

minha fala tão bem construída fica muda e amedrontada

a coisa é simples e eu complico
todos os fatos

me faz calar como ninguém
invade meu mundo porque eu deixo
vergonha eu não tenho mais
preciso
precioso
cá dentro
te guardo
te aguardo
agora

sexta-feira, 6 de março de 2009

e você?

aqui,
perto do Olimpo
debruçado nos livros
diante dos espelhos
ao lado do lixo
me desfazendo
tentando
gritando
e com saudades imensas
e esmagadoras
daquele que possui asas

alcance

não tenho medo do mar
não posso ter medo do lugar onde estou
há deuses por todos os lados
eu quero ver
...
ver se consigo
me manter firme
e distante da paixão pelos deuses

a quem estou enganando?

me desfazer tem sido minha mais árdua tarefa
desde que topei fazer parte dessa empreitada
mais fácil seria ser animal, somente
ou uma semente

segunda-feira, 2 de março de 2009

quase verdade

ainda com medo do céu desabar sobre a minha cabeça
as tentivas chegam ao limite
meu, dos outros
...

o cansaço flerta com o próximo passo
a cabeça cheia
e o coração se esvaziando

- Sim! Eu tenho um coração.
- Tem certeza?
- Tenho. Mesmo vazio ele está aqui. Eu sei, porque dói. Daí eu sinto. Entendeu?
- Se você tá falando...
- ...

Ele sempre teve dificuldades em manter um diálogo sincero com os outros. Se envolve numas relações tortas de dominador e dominado e isso o impede de se portar como ser humano, sem nenhuma outra pretenção.
No fundo ele é bobo e um tanto patético. Se eu não o conhecesse diria que ele faz corpo mole perante a vida.
Mas no fundo acredito que não. Apesar do seu maior adversário ser ele mesmo, o pobre faz lá algumas tentativas e isso não se pode negar.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

mais uma tentativa

não sei
(tempo espaçado, dilatado)

as palavras
(explosão)

...
o vazio me acusa
me preenche
todo
...

(quanto mais coisas tenho dentro de mim maior a dificuldade de vomitar)

confiança não faz parte do meu cardápio
esse meu coração murcho tenta pulsar sozinho na megalópole

a linguagem se vai
se esvai

se esgota muda e dissimulada
amedrontada porque se vê tão pequena diante dos olhos

ps.: nada me assusta mais que o olhar

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

fraude

esse medo
segura minhas pernas
se faz (?) de ente querido
...
belas promessas
como não sair de casa
não sentir dor
gozar controladamente
repito: controladamente

sorriso imóvel
carranca social

a ânsia sem o vômito

tantos fragmentos me assustam
não sei se sei viver hoje
o hoje
hoje

querendo entender pela resposta sem dominar a pergunta
e se dizendo filósofo

sem negar a delícia das ironias

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

essencialmente



esse desconhecido

me assusta
paraliza meus pés
cala a minha voz
prende meu ar
...
mas sinto-me puxado em direção ao infinito
de uma forma tal
que já nem sei

a tortuosidade do caminho atrapalha
e machuca

(juro que não é masoquismo)

ainda não sei nadar e já fui para o fundo acreditando que só lá havia coisas interessantes a descobrir

me debato,
vivo
me mantenho vivo
e assim será
até eu querer
ou aguentar
ou conseguir

talvez gritar seja mais simples do que parece

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

(explosão)

tenho me perdido no meu próprio abismo
com os olhos cheios e o coração rasgado
acredito que só eu estou ferido

o sono cada vez está mais distante
e os sonhos não existem como sonhos
são confusos

a separação não faz sentido
me confundo entre o que eu sou e aquilo que acredito ser e aquilo que tenho medo de ser
ainda não sei se acredito
não sei se quero
não sei se posso
não sei se é possível
ser

não gosto do que vejo
meus olhos veêm um mundo ferido
sala de espelhos rachados e debochados
corto meu braço e o sangue suja as pessoas

os anti-depressivos dançam ao meu redor

e cada vez que me vasculho fico na dúvida se corro ou fico

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

o ferimento fez com que o grito saísse
voasse
aliviasse

a chuva se confunde com as lágrimas molhando o rosto daquele que corria na noite passada

o estado de consciência era tal que por um instante não se sentiu humano
um mortal não suporta o peso total da verdade
das verdades
ou dos pressupostos todos que guarda
no fundo tudo mentiras
e suposições

tudo falso

no entanto
...
como não existem as verdades paremos de julgar o pobre homem que se descobriu só

(ele sempre quis ser ao menos um semi-deus)

ainda tentando suportar
quase abandonando a cegueira voluntária

domingo, 25 de janeiro de 2009

sangue nos olhos

uma confusão de sentimentos me toma
me leva pra longe dos outros
pra dentro de mim
pro lado de fora
pro fundo

(tudo parece repetição)

e chamar a sua atenção se tornou cada vez mais uma questão de necessidade
e a navalha fere a minha carne
num movimento quase involuntário
...
ainda bem que tenho ossos
e sangue nos olhos

exposição até o limite do cansaço
a ordem realmente não existe

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

fundo

toda essa exposição realmente fere
(...)
em vão me tento explicar
cada vez mais profundo
cada vez mais fundo
profundo
pro fundo
ao fundo
no fundo
fundo

o sono ainda está distante
mas o cansaço ajuda
e os sonhos quase aparecem

os fragmentos das máscaras que sempre usei aos poucos se mostram e quase caem
tentativa alucinada de romper os grilhões da existência falsa

todo esse jogo me atrai

ps.: nunca compreendi o silêncio.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

outro dia...

por que é que eu estou ferido?

(minutos intermináveis)

tive alguns instantes de lucidez e não soube o que fazer
as mãos trêmulas denunciavam aquele estado
o grito estava pra sair
juro que dessa vez ele estava pra sair
tudo indicava que daria certo
as roupas escolhidas a dedo
a súbita coragem
os óculos escuros
a respiração
a passagem de ônibus
...
tudo
absolutamente
não adiantou
nada adiantou
...
o acaso
ou ele
ou os dois
estavam ocupados

só me restou a tentativa de uma conexão comigo mesmo
e a vontade de ser ou parecer superior diante do fato
inutilmente

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

E mais e mais e mais

quero milhões de amores duma vez
quero aquilo que não posso querer
quero voar

voar alí, no azul
correr
dançar
querer
sempre
e
tanto
e
mais
e
mais
e
mais

ritmo acelera
e o silêncio estrondoso que ocupa a minha alma
com o desejo partido em mil pedaços

sempre acreditei nisso

...

Eu preciso de tempo para organizar todos esses fatos sem perdê-los de vista, sem que eles voem por aí, por esse céu rabiscado que teima em engolir os meus sonhos.

(inclusive aqueles pintados com as cores mais fortes)

sábado, 3 de janeiro de 2009

Aos poucos me tento explicar.

Tudo é pretexto.
Sempre uma tentativa desesperada de preencher

(minutos intermináveis)

aquilo que já nem sei mais.


E a sanidade já não existe.
...
Na verdade, ele persiste na ideia de ser sincero. Acredita alcançar um estado puro de consciência e isso o faz crer que chegará em algum lugar.

E ele vive cansado.
E ele muda constantemente de opinião.
E ele sempre diz que a culpa é dos outros.

Mas mantém seus olhos cheios, e é isso que importa.
Sinal de que tem sentimentos. Mesmo sabendo que isso não é lá grandes coisas. Mesmo assim, é melhor do que nada.(pausa) Melhor do que nada?
...


E o sono não chega. E a fotografia já não basta. E toda exposição é um ato de necessidade.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

(o relógio nunca foi meu amigo)

O meu coração está aos pulos... Mesmo em cacos ele se mantém pulsante, vivo. E eu não sei qual é a razão disso tudo.

Fica difícil enxergar desse jeito.

Bem... Há um bombardeio aqui dentro.
Nesse fluxo de pensamento e sentimento vou me debatendo contra as minhas próprias escolhas.
Não tenho certeza, mas acho que sou uma fraude.
Ainda tentando organizar. Ainda tentando explicar.
Sempre gostei de paradoxos.
E quase sempre gosto daquilo que está distante.

(as tentativas de uma comunicação plena ainda persistem)