quarta-feira, 29 de abril de 2009

ele.



todas essas cores que escorrem pela minha língua
no fundo só querem escorrer soltas
e manchar as camas daqueles que amei
daqueles que vou amar
daqueles que nem sei

ao som de um bolero qualquer
mais exagerado que um folhetim
mais sutil que um circo
sendo sujo
borrado
bruto
hoje te falei um pouco sobre essas coisas que se passam aqui dentro e me arrependi pois continuamos tão (ou mais) distantes que ontem.

terça-feira, 28 de abril de 2009

fujo

jogo fora tudo que desperte minhas lembranças
tudo o que me faça suspirar
que me tira do eixo
me causa embaraço
me toma pra si

muito mais espinhos que pétalas

fujo

você não vê
não me vê
se aproxima
respira no meu pescoço
eu esqueço tudo

e esse silêncio que atordoa a minha alma
torna tudo maior e mais forte
e mais difícil de se arrancar

segunda-feira, 27 de abril de 2009

tentativa do trágico.

quase desidratado pela quantidade de lágrimas que saíram dos meus olhos na frente de todos erguido pelos braços de outros e pensando em mais alguns esses tais que eu espero um dia de verdade poder ver e tocar e me misturar de forma que não me reconheça mais nunca mais ao menos
não da mesma
forma como sempre fui ao menos não com
esses espelhos

que tenho aqui comigo
esses
vergonhosos
malditos
engraçados
apaixonantes
(pudera!)

caóticos
e sinceros
e meus

e de todos aqueles livres e corajosos que vierem, que gostarem e que quiserem

sexta-feira, 24 de abril de 2009

desencanto.

esse meu humor de merda é pra disfarçar que tenho medo do tamanho de todo esse sentimento que te tenho com toda a força que não consigo suportar toda vez que vejo ou ouço ou lembro meu peito quase explode fico pequeno pequeno minúsculo sem saber se quero não querendo querer não querendo sentir tudo isso ao mesmo tempo sempre e tanto e tanto

quarta-feira, 22 de abril de 2009

e o que havia de humano alí se perdeu.

o mundo não é tão azul quanto eu pensei que fosse
um grande bando de carniceiros e de medrosos
flores murchas
ratos
e eu

a voz consegue sair
permanece parada no ar
parece brincadeira
como se nada fosse
sem graça
risos histéricos ecoam
e a emoção é outra

o que era grande
(ou ao menos se acreditava como tal)
encolheu de tal forma
com tal rapidez
no único lugar

desesperança
desesperança
desesperança

a poesia do pesadelo se perdeu
corri acordado e me percebi no meio do lixo
sendo lixo
descartável

quarta-feira, 15 de abril de 2009

do lado de dentro

É tão forte que parece impossível que alguém saiba como é.
Fica só essa sensação do estar sozinho no mundo, mais nada.
Tudo o que se diz depois está imcompleto.
Nessas horas acredito que o grito não sai por precaução de algum ser divino ou do meu divinal inconsciente.
Pelo estrago que se faz aqui dentro se saísse haveria uma grande explosão. Corpos mutilados, paredes desmoronadas, sonhos despedaçados.
Esses são os cacos que perfuram a minha pele e me fazem ter medo do escuro ao mesmo tempo que me sinto arrebatado por ele. Não consigo sair na luz do dia. Não consigo ser mais forte que essa minha tentativa aparentemente inútil, aqui.

terça-feira, 14 de abril de 2009

a fuga!

me armei com meus óculos escuros e saí

ápice da coragem
consegui correr de tanto medo

no meio do caminho haviam alguns fantasmas
cumprimentei-os e segui

tentei pensar mas havia muita névoa
respirar também era difícil

quanto mais corria menos ficava longe

todos me viram
até as crianças pararam na rua pra me ver fugir
riam de mim
gargalhavam
apontavam despudorados
todos

meus olhos escondidos
vagavam mais nús que de costume

nem pensei em gritar
e a garganta quase explodiu

sábado, 11 de abril de 2009

se houvesse platéia

me sento

(há uma mínima pausa até a próxima ação)

começo a ouvir um bolero qualquer
quase me rasgo
exagero
transbordo

a lágrima borraria a maquiagem
se houvesse maquiagem

a platéia se emocionaria
se houvesse platéia

mas não
é tudo um grande circo artificial
não sinto isso nem nunca senti
nada
e só

ou não: há uma fagulha lá no fundo
outro dia distraído pude sentir
juro
foi rápido
mas tenho certeza
está lá, eu sei
eu sei

(outra pausa, dessa vez por não saber mais o que dizer)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

sonhava

dei um milhão de passos
e continuei aqui

água fria no rosto
ombros caídos
suspiro

desenho formas estranhas com giz de cera
na tentativa de voltar à inocência
o cheiro de chuva
o bolinho de chuva
o chinelo de dedo
a corrida na rua
o brinquedo quebrado

estiquei
parece que cresci

mas e o resto?

e o resto?

me insinuo para o relógio
ele não me dá bola
pareço patético
insisto
continuo patético

ps.: com os anos será que isso melhora ou piora?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

mesmo que pouco

ando numa fase curiosa
sendo puta
fazendo o que os outros querem
por migalhas
por grandes quantias (pudera!)

vez ou outra me revolto
mas geralmente me contento
em ser apenas corpo
mais nada
só isso

e claro,
eu minto

a graça da puta é a vergonha que ela sente em ser
como quero sentir graça
rir da própria desgraça
escondo
não conto
por charme
mais que por covardia

ainda por cima gozando e lucrando
mesmo que pouco
sempre